A farsa do descanso eterno – Quando alguém morre, o que muda?
Quem nunca ouviu “ah, fulano descansou” ou “ir para junto do Pai para o descanso eterno”? Muitas vezes repetimos essas afirmações sem pensar muito sobre o que elas significam. Será mesmo que quem morre descansa eternamente? Será que essa afirmação faz algum sentido quando pensamos na espiritualidade?
Universo em expansão
Tudo que existe (e também tudo aquilo que não podemos ver) está em constante transformação. Não existe espaço para a estagnação ou inércia. Nem mesmo o Universo com todas as suas galáxias está parado. Pelo contrário, ele está em constante expansão. Tudo se movimenta em uma dança onde todos os elementos se conectam e possuem influência uns sobre os outros.
“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”
Na vida material tudo que fica parado adoece, desfaz, implode. Água parada apodrece. Um membro do corpo que não é usado, atrofia. Uma mente que não se exercita, sofre perdas de memória. Tudo, absolutamente tudo que existe depende do movimento e sofre a ação dessa constante transformação. Tudo que nasce, cresce e depois morre, voltando às origens e se integrando novamente no todo. A natureza inteira funciona dessa maneira e somos, nós mesmos, parte dessa natureza.
Então porque raios pensamos que a morte, que a passagem para o outro lado é um eterno descanso? O fato é que a vida é um constante movimento e conforme você dá um passo, ela dá a resposta de acordo com o que você escolheu. Ficar parado também é uma escolha, a qual a vida também responde.
A vida e a jornada evolutiva
Estamos aqui para aprender. Logo, tudo que fica parado contraria a lei divina. O sentido da vida é o próprio caminhar, onde, através das experiências que vivemos, viabilizamos uma dinâmica de aprendizado onde a melhora moral e a conexão espiritual são os objetivos. Evoluir significa, literalmente, progredir.
“Não, a vida não é uma festa permanente e imóvel, é uma evolução constante e rude”
Acompanhando a lei do nascimento, crescimento e morte, a vida é cheia de altos e baixos, que respondem à maneira que nos posicionamos frente aos eventos e também ao carma, ou seja, o planejamento que acordamos cumprir antes de encarnar. Temos metas, uma missão a realizar. Ninguém pode parar nem andar para trás. Algumas vezes essa sensação pode nos esmagar, pois, quando nos dói a alma, é difícil constatar que o mundo não para por causa da nossa dor. Mesmo nos piores momentos, que quase sempre envolvem a perda de alguém muito querido, é preciso tomar providências e agir. E vemos como o mundo parece não se importar com as nossas lágrimas e com nosso sofrimento. Por outro lado, essa mesma ideia nos traz paz, já que todos os dias nasce o Sol e sempre temos a oportunidade de recomeçar.
E frente a eternidade do espírito, que sentido faz pensar que uma única vida -que na melhor das hipóteses dura até uns 80 e poucos anos- é suficiente para nos ensinar tudo o que precisamos aprender? A farsa do descanso eterno é mesmo uma falácia, uma ideia que absorvemos sem pensar muito a respeito.
Quando alguém morre, nada muda
Também faz parte dos enganos da matéria a ideia que, após morrer, alguém virou “santo”. A pessoa viveu uma vida egoísta, prejudicou pessoas, fez a família sofrer. Mas, durante o enterro, as palavras que ouvimos sempre pintam uma pessoa quase perfeita, como se a morte fosse suficiente para apagar os erros cometidos ao longo da vida. O fato é que passamos para o outro lado da exata maneira que deixamos a vida na Terra. E, para onde vamos após a nossa morte tem muito a ver com a nossa vibração espiritual e com os créditos e débitos que angariamos na vida.
Pensar que alguém é bom porque morreu está tão errado quanto pensar que essa pessoa descansou. Tudo é relativo… Alguém que tirou a própria vida pode não ir diretamente para o umbral, assim como aquela pessoa que julgávamos boa, pode ir para um lugar horrível após a morte. E esses dois cenários mostram que o processo continua e há muito trabalho a ser feito. Quem quer ficar no umbral? Somente mentes dementadas é que permanecem muito tempo nas dimensões astrais mais densas. A maior parte das pessoas inicia rapidamente um processo de questionamento, arrependimento e humildade, clamando por ajuda. E ela chega, cedo ou tarde, ela chega. Ninguém é deixado para trás, nem mesmo o pior dos piores. E, para conseguirem iniciar a escalada dimensional da evolução, há que se trabalhar. Amparo, socorro de espíritos no umbral e aprendizado sobre o mundo espiritual estão entre as atividades que um espírito deve desempenhar para que sua jornada de evolução siga em direção a luz.
E evolução continua após a morte
Se você imagina um “céu” onde viveremos uma eternidade de descanso, já imaginou como isso seria? Aliás, pensar que seremos recompensados após a morte através de um paraíso perfeito é um engano. A verdade é que a vida na Terra é uma pequena parte de uma jornada eterna, em que a evolução e a transformação são leis que a tudo orientam.
O filme Nosso Lar, baseado na psicografia de Chico Xavier com a inspiração de André Luiz mostra isso claramente. André Luiz, em função da vida que levou e dos débitos que acumulou, é atraído para o umbral após seu desencarne. Pior, ele é considerado um suicida, pois sua morte se deu em função de maus hábitos que destruíram sua saúde. Humilhado, com fome e sentindo dores terríveis, nem ele sabe dizer quanto tempo permaneceu nesse lugar terrível. E quando chega seu socorro e ele é levado para a colônia espiritual em uma dimensão mais sutil, assim que ele se recupera já lhe passam a informação que ele deve procurar um trabalho. Seja ajudando ou estudando, ele não pode simplesmente parar. Ele não pode descansar.
“Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço”
O primeiro desafio de André Luiz é enfrentar seu ego, sua soberba. Quando ele percebe que está em uma espécie de hospital, ele logo se apressa em dizer que era um grande médico na Terra e pode ajudar muito. Como resposta, recebe um esfregão e é orientado a ajudar na limpeza do local. Aos poucos, ele percebe que o conhecimento da medicina da Terra não serve de nada no mundo espiritual. Lá, era preciso dominar a ciência do espírito. Com o desenrolar do filme, vemos também que as pessoas que se recusam a contribuir de alguma forma logo são chamadas a reencarnar.
A evolução continua, assim como a vida continua. Não há descanso eterno, mas sim evolução eterna, até que chegamos em um patamar tal que a nossa consciência se conecta com o todo de verdade e passa, realmente, a ser esse todo, a ajudar na continuidade de todo o sistema espiritual que sustenta a encarnação na Terra e em tantos outros mundos. Não acredite na farsa do descanso eterno, nem espere algum tipo de recompensa após a saída definitiva do corpo. Espere, sim, por um crescimento sem barreiras, por uma continuidade dinâmica que transforma a si própria e a tudo que está em volta. Não vamos descansar, vamos caminhar!
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