A presença dos anjos nas religiões
Quando pensamos em anjos, pensamos na concepção católica. No Brasil a tradição católica é muito forte e, mesmo as pessoas que não seguem a religião, são impactadas pela construção teológica dela.
Mas será que os anjos só existem na religião católica? Ou outros pensamentos metafísicos também falaram dos anjos?
“Nós, seres humanos, estamos na natureza para auxiliar o progresso dos animais, na mesma proporção que os anjos estão para nos auxiliar”
Os anjos são figuras universais entre as religiões. Isso significa que eles são um fenômeno comum entre quase todas as doutrinas, mesmo que os nomes e as funções que são atribuídas a eles sejam diferentes. Anjos são seres celestiais e espirituais, que servem como ajudantes ou mensageiros de Deus. São geralmente representados com asas, um halo, e tem uma beleza delicada. Emanam um brilho fortíssimo e são seres puros e inocentes. Os anjos são a figura divina mais conhecida e difundida das religiões, que mexem com o imaginário popular e fazem parte da cultura e das expressões verbais. “Dormir como um anjo” “crianças são como anjos” ou “seu anjo-da guarda” são frases que dizemos com muita frequência, mas que nem sempre percebemos o quão carregadas de conceitos religiosos elas estão.
Hierarquia angelical católica
Sim, existe uma hierarquia angelical, uma organização angélica de acordo com funções.
Essa organização provém do Pseudo-Dionísio e de Tomás de Aquino, que, além do agrupamento pelo “tipo”, divide os anjos em três tríades:
Primeira tríade
São os anjos mais próximos de Deus
– Serafins: emanam a essência divina em mais alto grau. O anjo Metatron, príncipe dos Serafins, governa globalmente todas as forças da criação em benefício dos habitantes da Terra. Representa o poder da abundância e a supremacia.
– Querubins: seres misteriosos, às vezes mostrando formas híbridas de homem e animal. São também representados como crianças pequenas com de asas, quase como bebês. Segundo a tradição, Satanás seria um querubim ungido, sendo chamado antes pelo nome de Lúcifer ou Belial.
– Tronos: são identificados como os 24 anciãos, que perpetuamente se prostram diante de Deus e, a seus pés, lançam suas coroas. São os símbolos da autoridade divina, da humildade e obediência.
Segunda tríade
Desse grupo fazem parte os príncipes celestiais.
– Dominações: têm a função de regular as atividades dos anjos inferiores e distribuem aos outros anjos as funções e seus mistérios. Presidem os destinos das nações.Virtudes: responsáveis pela manutenção do curso dos astros, para que a ordem do universo seja preservada de acordo com os planos divinos.
– Potências: executam as grandes ações do governo universal. São os portadores da consciência de toda a humanidade, encarregados da história e memória coletiva. Os anjos do nascimento e da morte pertencem a esse grupo.
Terceira tríade
A terceira tríade é composta pelos anjos ministrantes, encarregados dos caminhos das nações e mais ligados ao mundo material.
– Principados: encarregados de receber as ordens das Dominações e Potências, e transmiti-las aos reinos inferiores. Protegem também a fauna e a flora e velam pelo desenvolvimento das boas ideologias, arte e ciência.
– Arcanjo: são os famosos mensageiros Miguel, Rafael e Gabriel, além dos 4 mencionados no livro de Enoque: Uriel, Ituriel, Amitiel e Samuel, responsáveis pela vigilância universal.
– Anjos: são os seres mais próximos da humanidade. São dotados de vários poderes supernaturais, como o de se tornarem visíveis e invisíveis, voar e operar milagres. São estes que, geralmente, são responsáveis por salvar pessoas. É aquela mão invisível que te “puxa” antes de atravessar a rua e você percebe que ia ser atropelado. É aquela “pessoa” que, quando você caiu na rua, te ajudou a levantar e, do nada, sumiu.
Outros
Além das tríades, temos outros de anjos muito conhecidos, que fazem parte do reino angelical:
– Anjo da guarda: é o ser angelical confiado individualmente para cada pessoa no momento do nascimento, para proteger do mal e inspirar a prática das boas ações. É o nosso protetor ao longo da vida.
– O Anjo do Senhor: também é conhecido como o “Anjo da Presença“, não é um ser com vida própria, mas sim uma forma-pensamento que representa Cristo.
– Lúcifer: não podemos esquecer do “anjo caído”. Costumamos pensar no diabo como totalmente mau, e esquecemos de sua essência angelical. Lúcifer seria um querubim que se rebelou contra o Arcanjo Miguel e contra o próprio Deus, sendo posto por Miguel para fora do Céu e iniciando a “guerra” entre o céu e a terra, criando o inferno, seu reinado.
“Mas os homens devem saber que só Deus e os anjos podem ser espectadores do teatro da vida humana”
Anjos no Oriente
O budismo também acredita nos anjos, apesar de não conceber uma divindade, um Deus.
Nessa crença existem os devas, seres divinos que apresentam uma personalidade “quase” humana. São invisíveis, mas sua proximidade pode ser sentida por pessoas que conseguiram abrir o terceiro olho, um dom extra sensorial que permite enxergar seres de outros planos. Seu nome deriva da raiz sânscrita div, que significa “brilhar”, que significa, então, os “seres brilhantes” ou “auto-luminosos.
Os devas podem construir formas ilusórias para se manifestarem, são capazes de voar e operar milagres. Muitas vezes, vieram trazer mensagens aos humanos.
No hinduísmo, também estão presentes. Também aparecem como devas, com uma descrição muito semelhante à budista.
No mundo muçulmano também há anjos
Para os islâmicos, os anjos são seres feitos de luz, tendo sido criados antes do ser humano. Diferentemente do homem, criado da terra, não possuem o livre-arbítrio e consequentemente não desobedecem as determinações de Deus. Foram criados, em sua maioria, com uma aparência bela. Não possuem sexo, não se alimentam e não têm necessidades fisiológicas. A angelologia islâmica divide os anjos em dois partidos principais, os bons, fiéis a Deus, e os maus, cujo chefe é Iblis ou Ash-Shaytan, privados da graça divina por terem se recusado a prestar homenagens a Adão.
Existe também uma categorização hierárquica, semelhante à católica: em primeiro lugar estão os quatro Tronos de Deus, com formas de leão, touro, águia e homem. Na sequência vêm os querubins, seguidos dos quatro arcanjos: Jibril ou Jabra’il, o revelador, intermediário entre Deus e os profetas e constante auxiliador de Maomé; Mikal ou Mika’il, o provedor, citado apenas uma vez no Corão e quem, segundo a tradição, ficou tão horrorizado com a visão do inferno quando este foi criado que jamais pôde falar de novo; Izrail, o anjo da morte, uma criatura de dimensões cósmicas, quatro mil asas e um corpo formado de tantos olhos e línguas quantas são as pessoas da Terra.
Como uma classe à parte estão os gênios, ou djins, que possuem muitas características humanas. Ao contrário da concepção judaico-cristã, Lúcifer não foi um anjo caído, mas sim um gênio; foi criado antes do homem, mas foi feito do fogo.
Assim como os seres humanos, os gênios possuem livre-arbítrio.
No espiritismo e teosofia
Os anjos descritos por Allan Kardec são também semelhantes à tradição católica, porém, com uma diferença básica: os anjos não seriam perfeitos, sendo seres que estão evoluindo em sua própria jornada. Isso porque, Deus, sendo soberanamente justo, bom e perfeito, não teria criado os anjos perfeitos, pois seria injusto com os humanos e Deus não é injusto.
“Porque os homens são anjos nascidos sem asas, é o que há de mais bonito, nascer sem asas e fazê-las crescer”
Os anjos teriam então evoluído, por mérito próprio, à condição de anjos. São espíritos elevados, protetores dos necessitados e mensageiros do amor.
Na teosofia, os anjos são considerados seres de um dos muitos reinos da criação divina. Assim como no espiritismo, os anjos na teosofia são seres em evolução, havendo então diferenças de poder, sabedoria, amor e inteligência entre seus integrantes. Eles existiriam por causa própria e não em função da humanidade, embora a ajudem sempre que necessário, sendo o auxílio aos homens parte de sua missão. Especialmente os anjos-da-guarda, a classe que estaria diretamente ligada à humanidade.
Independente da religião, lá estão eles. O que torna a existência deles ainda mais real. Seja qual for a doutrina, Deus nunca esteve sozinho, assim como nós nunca estivemos.
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