Mais que optimismo: a gente precisa é de esperança!
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Hoje em dia vivemos uma cultura da felicidade, que se transformou quase em uma ditadura, uma obrigação imposta, com tantos livros de auto-ajuda, discursos motivacionais e o coaching. Não é permitido sofrer, não é permitido desanimar.
Você deve sempre pensar de forma positiva e vibrar da forma mais sutil possível para conseguir cocriar sonhos na realidade material. Só não tem as coisas quem não quer, quem não deseja de verdade, quem não sabe “vibrar” e não está desperto, evoluído.
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Pessimismo nem sempre é o que te contaram
Mas a verdade é que esse discurso só existe nas redes sociais. Fora delas, é a vida real que acontece, como uma avalanche de acontecimentos que temos que superar. Alguns obstáculos são pequenos, como aborrecimentos diários, por exemplo. Já outros são maiores e tem alguns que parecem intransponíveis, tal qual uma montanha. O fato é que a vida é difícil e complicada e ninguém consegue ser feliz e otimista o tempo todo. Simplesmente não dá.
“O pessimismo, quando você se acostuma a ele, é tão agradável quanto o otimismo”
A vida abrange todos os polos, os negativos e positivos. O mundo não é essencialmente bom, embora também não seja completamente mau. Há que se ter equilíbrio para conseguir dar as medidas os pesos que elas merecem. O otimista tende a rejeitar o negativo, querendo sempre criar situações positivas e negar o que não se encaixa nessa perspectiva. E isso pode ser bem ruim. O mundo é o que é, não o que queremos que ele seja. Logo, quem quer conhecer o mundo, a verdade que sustenta a existência, temos que conseguir retirar as vendas dos olhos para então enxergar o mundo como ele realmente é: sombras e luz.
Logo, uma dose de pessimismo não faz mal a ninguém. Pelo contrário, nos coloca em uma posição de humildade perante o Universo e pode inclusive ajudar no nosso despertar espiritual. Às vezes quem tem uma visão mais pessimista consegue administrar melhor os fatos e até se proteger deles de maneira mais eficaz.
O otimismo pode ser tóxico também, sabia?
Muita gente pode não concordar com a afirmação acima, mas vamos parar por um instante e refletir: até que ponto ser otimista é ser evoluído, desperto? Se pararmos para pensar, as pessoas com esse tipo de discurso são, na maior parte das vezes, egoístas e superficiais com relação ao mundo e aos outros. Eles costumam relativizar os problemas do outro, tentando enxergar o lado positivo de tudo ou indo pelo caminho da força do pensamento. Se você está doente, veja aquele Fulano que morreu. Se você está cansado, significa que está vivo. Se você realmente desejar algo, o Universo vai te dar. Logo, concluímos que tem todo um continente no mundo chamado África em que as pessoas, coitadas, não sabem vibrar positivo e a miséria delas é consequência disso. Percebe como pode ser destrutivo esse pensamento?
Pintar um mundo cor-de-rosa nos aliena com relação às sombras, ao que acontece de errado ao nosso redor. É fácil, por exemplo, justificar as injustiças sociais através dessa ótica. E às vezes o Titanic está afundando mesmo e pensar positivo não vai nos salvar, olhar para o quanto ainda “não afundamos” também não. Sem coletes e barcos salva-vidas, já sabemos o que acontece no final…
“O pessimismo torna os homens cautelosos, enquanto, o otimismo torna os homens imprudentes”
A obrigação de ter de evitar pensamentos pessimistas e ser positivo o tempo todo é impraticável para a maioria das pessoas. Quanto mais você tenta evitar um tipo de pensamento, mais ele vai aparecer em sua mente. O esforço de repetir que tudo dará certo tende a piorar a autoestima também, segundo um estudo feito sobre o pensamento positivo forçado, feito pela psicóloga Joanne Wood, da Universidade de Waterloo, no Canadá. Em sua experiência, Wood pediu que um grupo de pessoas com baixa autoestima escrevesse um diário. Toda vez que um sino tocava, eles tinham de repetir para si próprios a frase “sou uma pessoa amável”. Uma série de métodos de medição do humor constatou que as pessoas ficavam bem menos contentes depois de dizer a frase.
Isso mostra que quando não estamos nos sentindo bem, repetir que tudo está bem só reforça a negatividade. Além de baixar a autoestima, o otimismo também pode nos tornar mais ansiosos. Se a realidade tem evidências de que algo vai dar errado, tentar forçar o cérebro a enxergar diferente vai causar ansiedade, pode apostar. Por fim, quem acha que tudo sempre vai dar certo pode deixar de planejar saídas para caso as coisas não corram tão bem assim. Já uma pessoa pessimista, não. Você pode apostar que essa pessoa tem planilhas com planos B, C, D, E e talvez até F. São eles que tem aquele olhar mais pé no chão, que consegue imaginar as mais remotas possibilidades de erro e tentar se antever a elas. Havendo equilíbrio, um olhar mais pessimista pode ajudar muita gente.
A esperança é o que nos salva
Eu prefiro a palavra esperança ao invés de otimismo. O otimismo implica naquela visão mais cor-de-rosa, alinhada com essa cultura do positivismo em tempo integral. O otimista não pode desanimar, ficar triste ou se sentir perdido, sem rumo. E a vida vai te deixar perdido às vezes, desanimado, entristecido. E tudo bem. Aliás, a dor faz parte do crescimento.
“O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”
Já a esperança não. Quando ela vive dentro de nós, pouco importa se estamos animados tristes. Quem tem esperança se mexe, quem tem esperança aceita os fatos e segue apesar deles, mesmo que pareça estar carregando o mundo nas costas. É a esperança de que tudo pode melhorar que nos faz caminhar, que nos faz acordar todos os dias e fazer as nossas coisas. A pandemia é um grande exemplo disso: se você está animado, feliz e satisfeito com a realidade, é possível que não tenha compreendido a extensão do problema que estamos enfrentando e quantidade de famílias que estão em luto nesse momento. Não há como ser otimista em relação à situação atual do Brasil.
Quem vem com esse discurso do “vai passar” é provavelmente do time que nega a realidade que estamos vivendo. Mas não quem tem esperança. Esses sabem exatamente o que está se passando, os cuidados que devem tomar por si e pelos outros, sentem que o mundo está sofrendo demais (e até sofrem junto), mas continuam, sem negar a realidade nem rejeitar o peso que ela está colocando em nossas costas. A esperança não depende de felicidade e otimismo. Ela não quer saber o quão terrível é uma realidade ou não. Ela tem a ver com fé, com acreditar que para tudo há um motivo. É a esperança que nos faz viver melhor, que nos traz resiliência, paciência, humildade e perseverança.
Dicas para usar o pessimismo a seu favor
Aqui vão algumas dicas para você se tornar um bom pessimista. Sim, é possível ser um bom pessimista, quando aprendemos a usar essa característica a nosso favor!
Gerencie suas expectativas
Quando consideramos que o pior pode acontecer, quase sempre vamos perceber que esse “pior” não é tão assustador assim. Podemos até usar esse exercício para conseguir nos planejar para o que pode dar errado, fazendo então com que as coisas deem certo mesmo se não saírem conforme o esperado. Use seu pessimismo para estar sempre prevenida.
Não ignore as dúvidas
Se você tem aquele feeling de que as coisas podem dar errado, é porque elas podem. Tudo sempre pode piorar, sabe? Não evite os pensamentos negativos. Sobre aqueles que você tiver controle, aja. E aquilo que não tem remédio, considere remediado e use essa percepção para tomar decisões melhores.
Aprenda a se mexer sem motivação
Ninguém consegue estar motivado 100% do tempo. É simplesmente impossível! E esse é um dos grandes equívocos da indústria da autoajuda, no sentido de que a maior parte dos gurus da positividade ensinam que você deve encontrar motivação para tudo, em absolutamente tudo. Na verdade, a vida é mais aprender a lidar com as frustrações e com a falta de sentido, do que tentar encontrar sentido em tudo.
“Esperar pelo melhor é preparar‑se para o perder: eis a regra. O pessimismo é bem grande, é fonte de energia”
Flexibilize os planos
Essa história de que é preciso ter metas, sempre muitas metas, não funciona todo tempo. Ter objetivos e continuar sonhando nos ajuda muito, mas colocar metas para tudo pode nos tornar obsessivos demais em torno de um aspecto da nossa vida, nos fechando para outras possibilidades. Às vezes é preciso saber deixar ir, aceitar que certa coisa pode não acontecer da maneira que esperamos. E tudo bem, vamos fazer do limão uma limonada e pronto. O mundo tem tantas possibilidades!
Pessimismo também é autoconhecimento
Saber quais são os nossos limites e aceitá-los faz um bem danado. É um respeito que desenvolvemos por nós, que nos impede de mentir para nós mesmos e nos colocar em situações desagradáveis ou até arriscadas. Se sabemos até onde podemos chegar, não daremos um passo maior do que a nossa perna.
Não minta para você
Se enganar não adianta de nada. Pior, há quem engane os outros e faça fortuna usando o positivismo para vender cursos. Recentemente vimos uma blogueira famosa, que dá cursos de inteligência emocional, assumindo que estava em um relacionamento abusivo com o marido há mais de dois anos e que isso a teria levado a desenvolver depressão. Pois bem, não foi essa a mensagem que ela passou através dos cursos e do perfil nas redes sociais. Lá, ela vendia essa imagem da perfeição, da inteligência emocional inabalável que pode transformar sua vida e realizar seus sonhos.
A verdade é que isso tudo vinha de alguém fragilizada, que não foi capaz sequer de terminar uma relação afetiva destrutiva. Ela mesma diz que mentia para si mesma. Esse é o pior erro que podemos cometer. Não rejeite o que é negativo, não tente esconder as emoções que denunciam como você realmente se sente. Você pode ressignificá-las, mas negá-las não traz crescimento e é o pior dos caminhos.
Planejar é bom
Só planeja quem consegue pensar em hipóteses. E quem trabalha com a ideia de que tudo vai dar certo não consegue fazer planos sólidos. Imagine a catástrofe sim! O que fazer se não der certo? Você vai viajar, por exemplo. É preciso pensar no que fazer se a mala extraviar, se a imigração não permitir sua entrada, se o Airbnb não der certo, se o hotel não efetivar as reservas, se o táxi não estiver lá, se o avião atrasar, se o voo for cancelado, enfim, o que fazer quando tudo der errado.
Planejar os melhores e piores cenários é a melhor forma de termos algum controle sobre isso que chamamos de vida.
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