Diário de satsang — experiência fora do tempo, por Gabhishak
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Relatos do encontro online com o mestre Satyaprem realizado no Retiro da Primavera de 2020.
Desde que comecei a escrever nesse portal tenho relatado um pouco da experiência pessoal com a meditação; melhor, com a prática meditativa.
O colorido do espaço que me é facilitado deve-se a essa simples ocorrência.
Eu pratico e venho aqui dizer como foi.
O que senti, que percepções tive, o que foi possível verificar; como estava antes e como fiquei depois.
Em linhas gerais, meu trabalho consiste em compartilhar quais efeitos as técnicas de meditação tem promovido no meu corpo e mente.
Uma e outra vez ainda procuro acrescentar uma pitada de ciência e outra de casos concretos que tenho observado.
Eu falo dos métodos.
Estou nisso, treinando e pesquisando há exatos nove anos.
Investigo o que ocorre comigo e conto aos leitores.
E proponho que todos investiguem em si mesmos.
Tenho sido um incentivador da meditação enquanto prática promotora de saúde e bem estar.
Se a isso se pode chamar trabalho, tem sido tal meu ofício.
A princípio, seria natural seguir a mesma linha para relatar o encontro online com Satyaprem.
Eu deveria abrir o ‘mac’ e transcrever a experiência.
Simples, não?
Pois é aí é que a ‘porca torce o rabo’.
Não sei se será tarefa das mais fáceis.
Vontade não falta de revelar como é um satsang.
Entretanto, no momento em que tento fazê-lo, sinto como se as mãos estivessem amarradas.
Exemplo. Não tenho a menor ideia de quanto tempo durou o primeiro dia de retiro.
Não sei que horas começou, nem que horas terminou.
Quando tento lembrar, não encontro muita coisa.
E se você me pede pra repetir alguma frase, ‘ipsis literis’, também não poderei fazê-lo sem faltar com a verdade.
“Verdade”.
Disso eu lembro. Vagamente.
Recordo que o mestre disse que ‘sat’, a primeira sílaba de satsang, em tradução do sânscrito, significa verdade.
Mas se você me perguntar o que é a verdade, novamente não poderei responder.
Não sei é o mais sensato.
Talvez tudo nesse primeiro dia tenha girado em torno da palavra ‘sat’.
Sim, esse foi o tema central.
Se não me falhe a memória (peço escusas).
Houve inclusive um momento em que Satyaprem cita o Tao te Ching: ‘a verdade que pode ser dita não é verdade’. E ainda completou: ‘se a verdade que pode ser dita não é verdade, então essa própria frase não é verdadeira, porque não poderia ter sido dita. Logo, concluiu: ‘a verdade pode ser dita, mesmo sem poder’.
E foi dessa maneira que se seguiu.
Um paradoxo atrás do outro.
Definitivamente, satsang não é algo comum, banal.
Como é possível ouvir alguém com total atenção por sabe-se lá quanto tempo e depois não ser capaz de dizer nada a respeito, pura e simplesmente pelo fato de não encontrar registros sobre o ocorrido.
De duas, uma.
Ou não havia ninguém dizendo coisa alguma.
Ou trata-se, o tal satsang, de algo que não está circunscrito à memória.
E se não deixa memória, não pode ter sido ume experiência.
E se experiência não foi, tampouco fora algo percebido pelos sentidos
(mesmo que o corpo do Gabhishak estivesse ali, vendo e ouvindo).
Foi atemporal.
Pois isso eu lembro (thanks, God): a mente existe no tempo (como a memória do que passou) e o corpo no espaço (sentado na cadeira).
Tais constatações, querendo ou não, ensejam uma definição de satsang como ‘uma experiência fora do tempo’.
Mesmo que eu tenha cometido duplo atentado ao dizer que satsang é passível de definição e que pode ser considerado experiência.
Que o mestre me perdoe.
É que tenho que dizer, agora, àqueles que leem.
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