Esquiva experiencial: não é possível estar feliz o tempo todo
Em diversas ocasiões de nossas vidas sentimos tristeza, ansiedade, entre outras emoções desagradáveis. Essas sensações são naturais e fazem parte da trajetória humana. Existem pessoas que buscam formas para evitar tais sentimentos. Mas, será que desviar-se dessas emoções é uma boa estratégia? O conceito de transtorno de esquiva experiencial pode nos ajudar a entender melhor essa questão.
O que é esquiva experencial?
Segundo Hayes e seus colaboradores (1996), o transtorno de esquiva experiencial consiste na recusa de permanecer em contato com experiências internas negativas que incluem pensamentos, sensações corporais, emoções e memórias. A pessoa afetada com esse transtorno adota estratégias para evitar eventos e situações que gerem essas experiências internas.
Atualmente, estamos inseridos em uma cultura da felicidade, que exige que sejamos felizes todo o tempo, aconteça o que acontecer. A questão é que, quando não conseguimos, nos sentimentos frustrados e infelizes, o que nos deixa ainda mais perturbados e pode levar ao transtorno de esquiva experiencial.
A felicidade não é um estado permanente, não podemos afirmar que somos felizes o tempo todo. Não se trata de um modo de ser, mas um estado de espírito. É mais sensato dizer que às vezes estamos felizes e às vezes não, já que esse estado vai depender de muitas variáveis. Tentar sempre estar bem emocionalmente é uma ilusão que nos faz ir cada vez mais fundo no sofrimento. Quando evitamos a ansiedade, tristeza ou dor, de alguma forma, tornamos nosso desconforto ainda maior. Exercemos uma pressão sobre nós mesmos quando afirmamos que precisamos estar sempre bem.
O transtorno da esquiva experiencial é uma tendência de querer priorizar o sentimento de felicidade de forma constante e agir para que um bem-estar imediato seja alcançado. Entenda melhor sobre o transtorno e conheça um possível tratamento a seguir.
Rejeitando os sentimentos negativos e fuga da realidade
A terapia de aceitação e compromisso (ACT) recusa os sistemas tradicionais de diagnóstico e avalia como único elemento de ação e análise o comportamento e a sua função no contexto. Assim, o conceito psicopatológico a partir desta terapia é conhecido como transtorno de esquiva experiencial.
A esquiva experiencial determina um padrão de comportamento inflexível. O mesmo é gerado através de um padrão de regulação verbal ineficaz, que incide em desviar do sofrimento a qualquer custo. Assim, controla as sensações, eventos privados, sentimentos e as ocasiões que os geram.
A tentativa de um controle absoluto, através de comprimidos para ansiedade, álcool ou outros tipos de drogas, evitam que nossos valores pessoais sejam contrariados nos levando a ciclos de desconforto contínuo. Aqueles que possuem o transtorno de esquiva experiencial rejeitam os sentimentos negativos e não querem vivenciá-los ou senti-los sob nenhuma circunstância. A pessoa diz a si mesma que sentir emoções negativas é ruim e doloroso, que precisa estar sempre feliz, que é estranha por estar triste, se pergunta o que os outros vão pensar se a virem ansiosa, entre outras coisas.
Todos os pensamentos levam o sujeito a tentar controlar emoções de uma maneira rápida, eficaz e fácil a curto prazo. Porém, o controle emocional costuma ser efêmero e, depois de um curto período de tempo, o desconforto emocional vai voltar com mais força. A pessoa que possui este transtorno coloca um curativo em suas emoções, para que elas fiquem escondidas. No primeiro momento, pode funcionar, mas o curativo cai e faz com que a emoção reapareça.
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Como fazer o tratamento do transtorno de esquiva experiencial?
A principal solução para esse distúrbio se encontra na aceitação, observação incondicional e não julgamento de experiências psicológicas como emoções, pensamentos e sentimentos. Para atingir esse objetivo, a terapia de aceitação e compromisso usa diversas estratégias como o Mindfulness, as metáforas terapêuticas e a desintoxicação cognitiva.
O tratamento da esquiva experiencial também se concentra em restaurar a importância dos valores individuais diante a emoções, comportamentos impulsivos e momentâneos. Através dessa abordagem terapêutica, deriva a conotação de “compromisso”. Ou seja, o trabalho para fazer as pessoas se comprometerem com seus valores, independente do que aconteça. O tratamento busca fazer com que o paciente deixe de lado a luta contra o desconforto, preenchendo a vida com atividades que tenham valor para si mesmo.
Nós sabemos que a tristeza profunda e a ansiedade não são nada agradáveis e não queremos conviver com elas. Mas, a vida nem sempre acontece de acordo com nossas vontades e preferências e, inevitavelmente, terão momentos em que teremos que vivenciar sentimentos não tão agradáveis.
A luta contra o transtorno de esquiva experiencial é uma tarefa difícil, que envolve um caminho árduo. Porém, é algo necessário para nos livrarmos das armadilhas dos pensamentos e crenças rígidas que, procurando o bem-estar, nos levam à auto sabotagem. Caminhe sempre em direção aos seus objetivos, sejam eles quais forem. Deixe as emoções e pensamentos negativos andarem com você. No momento em que aprender a conviver com eles, aos poucos eles vão deixa-lo. Oriente sua vida através de seus valores pessoais e aceite os desconfortos do dia a dia, tornando-se mais leve e feliz.
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