Na verdade, os finados somos nós
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
No começo de novembro é celebrado o Dia de Finados, um momento em que relembramos aqueles que partiram com orações ou visitas aos túmulos onde estão enterrados. Para muitos, esse é um momento de tristeza, onde a presença da ausência faz a saudade doer na alma. Mas na verdade, os finados somos nós.
A morte é, infelizmente, um tabu para nós. Especialmente quem mora na porção ocidental do globo, a morte é temida e um assunto proibido, que tentamos evitar a todo custo. Os corpos devem ser escondidos e usamos termos que amenizam o fim da vida: falamos finados quando na verdade falamos do dia dos mortos, dizemos que fulano não morreu, faleceu, veio a óbito, partiu, descansou eternamente. Evitamos até pronunciar a palavra morte, como se o simples fato de dizer essa palavra já tivesse o poder de atraí-la.
Mas, na verdade, os finados somos nós.
Quem está realmente morto?
Se pensarmos bem, os finados somos nós, os encarnados.
Nós consideramos a morte quando alguém deixa de fazer parte da vida material, ficando inacessível para nós. O convívio deixa de existir, e no lugar dele, fica uma ausência dolorosa e que pode ser sentida durante anos. Não conseguimos ver, ouvir, tocar ou sentir quem amamos, e a incerteza do que acontece depois é o que nos consome a alma, apesar de todas as religiões prometerem vida eterna e garantirem que essa “vida” será muito melhor que a atual.
“Todas as religiões nos garantem que vai ser muito melhor depois, e todas elas têm ritos que falam da dor e da tristeza. Se nós fôssemos, de fato, religiosos, comemoraríamos a morte de uma pessoa. Mas como não somos de fato religiosos, apenas temos crenças religiosas, nós sentimos essa dor eterna”
Mas, como sabiamente disse Leandro Karnal, nós não somos verdadeiramente religiosos, apenas temos crenças religiosas. Pois, quando nos deparamos com a finitude, a única certeza da vida, não há religião que dê conta de consolar nosso coração, embora sejam elas as únicas saídas para o desespero de quem perde alguém muito querido. Algumas culturas mais espiritualizadas como a mexicana e indiana entendem bem esse conceito, e, apesar da tristeza e da saudade, celebram a morte como a grande libertação que é. Mas, se entendermos que somos todos espíritos vivendo uma experiência na matéria, é justo dizer que a nossa essência, a nossa origem e morada verdadeira não é aqui.
É lá. Nossa verdadeira família espiritual está lá, as pessoas que mais amamos também. E quem é que está incomunicável, isolado e inacessível? Nós. Somos nós que estamos inconscientes, afastados, longe da nossa casa, limitados espiritualmente pelos nossos corpos físicos. Fomos nós que deixamos o convívio daqueles que amamos, para viver uma experiência material. Nós é que estamos longe de casa, não eles, os mortos. Podemos dizer que nós é que morremos para a espiritualidade, não quem retorna a ela.
Você já pensou nisso? O que chamamos de morte, nada mais é do que um retorno às nossas origens. Quem morre se liberta! A saudade machuca mesmo e há mortes, como a de um filho, que são quase insuperáveis. Mas devemos nos preparar para esses momentos, e estudar a espiritualidade abre novas perspectivas que nos ajudam a amenizar esse sofrimento e, em alguns casos, até conseguir contato com os que voltaram ao verdadeiro lar.
“A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais”
A morte é uma ilusão, ela não existe. Nada morre. Tudo sempre se transforma. Algo que é eterno não pode morrer.
A morte só nos separa de quem amamos por um pequeno período, assim como acontece quando alguém que amamos vai viajar, por exemplo. Estar em países diferentes, separados um oceano, é quase a mesma coisa. A diferença é que, quando alguém morre, ficamos separados dessa pessoa pelas dimensões. Ao invés de outro país, essa pessoa vai para outra dimensão. E a nossa tecnologia ainda não consegue acessar essa dimensão. Ainda. Mas, segundo previsões de Chico Xavier, a comunicação espiritual através de tecnologia será, em breve, uma realidade.
Dia de Finados – Viver para sempre seria terrível…
A eternidade é melancólica. Apesar deste ser um desejo de quase todas as pessoas, a vida eterna (na matéria) seria uma desgraça, pois é justamente a finitude da vida que dá sentido a ela. Existe uma lenda mitológica que passa justamente essa ideia: a história de Sibila de Cumas.
A Sibila de Cumas, segundo a mitologia grega, era natural de Éritras, importante cidade da Jônia Seu pai era Teodoro e sua mãe uma ninfa. Conta-se que ela nasceu numa gruta do monte Córico e, tinha, desde o nascimento, o dom da profecia, e fazia suas previsões em versos. Ficou conhecida como a sibila de Cumas porque passou a maior parte de sua vida nesta cidade. Na Antiguidade, Sibila de Cumas era considerada a mais importante das dez sibilas conhecidas. Elas eram como sacerdotisas de Apolo, o deus que inspirava as profecias das sibilas. Diz a lenda que havia sido prometido a Sibila de Cuma a realização de um grande desejo, que era a vida eterna. A Sibila então colocou um punhado de areia em sua mão e pediu ao deus para viver tantos anos quantos fossem as partículas de terra que tinha ali. O problema é que ela esqueceu de pedir também a eterna juventude, e foi, ao longo dos anos, sendo tão consumida pela idade que teve de ser encerrada no templo de Apolo em Cumas. Presa dentro de uma gaiola, a Sibila só conseguia dizer “quero morrer, quero morrer”.
“Se vale a pena viver e se a morte faz parte da vida, então, morrer também vale a pena”
A morte faz parte da vida. Tudo que existe na natureza morre, se decompõe e se transforma, se unindo novamente ao todo de onde se originou. Se todos vivessem para sempre, a vida na Terra seria impossível. E se só algumas pessoas vivessem para sempre, seria muito triste. Imagine viver as perdas para sempre! Estabelecer laços e presenciar a partida de todas as pessoas que amamos. Seria terrível. Já a vida eterna espiritual é muito diferente e nem conseguimos imaginar esse conceito, já que tudo que sai do raciocínio do tempo foge a nossa compreensão. Viver eternamente a vida material seria uma tragédia!
Viva: A vida é uma festa!
Não há filme mais belo que trate da morte, como a animação chamada Coco, ou, em português, A Vida é uma Festa. Se você quer mudar sua perspectiva sobre a morte e ter uma visão mais bonita sobre o dia de finados, esse filme é obrigatório. Mas prepare-se, lágrimas vão escorrer do começo ao fim! E você pode-se perguntar: a morte pode ser celebrada?
Coco é uma animação computadorizada, produzida pela Pixar Animation Studios e distribuída pela Walt Disney Studios. A história é sobre um garoto de 12 anos chamado Miguel Rivera, que acidentalmente é transportado para o mundo dos mortos, onde procura pela ajuda de seu trisavô músico para voltar para a sua família no mundo dos vivos. A história se passa na fictícia cidade de Santa Cecília, no México. No passado, Amelia Rivera, a tataravó de Miguel, era a esposa de um músico que a abandonou com a filha do casal, Ines, para seguir uma carreira musical. Magoada pelo abandono, Amelia baniu a música em sua família e abriu uma empresa familiar de calçados. No presente, Miguel vive com sua família, incluindo a já idosa Ines, sua bisavó. Ele secretamente sonha em se tornar um músico, assim como Ernesto de la Cruz, um ator e cantor muito popular na época em que Amelia foi abandonada. Um dia, Miguel acidentalmente destrói a moldura da foto de Amelia no centro da oferenda da família aos mortos, descobrindo que nessa foto o marido dela (cujo rosto foi rasgado) estava segurando a famosa guitarra de Ernesto. Concluindo que é descendente de Ernesto, Miguel decide contar a sua família seu sonho de ser músico e que se inscreveu em um concurso de talentos da vila onde moram. Mas, sua enérgica avó Elena (filha de Ines) se irrita com a revelação e quebra seu violão por ele ter desobedecido a regra mais importante da família: “sem música”.
Desolado, na véspera do Dia dos Mortos, Miguel vai ao museu de La Cruz para pegar emprestado o seu violão de caveira, mas, ao tocar a primeira acorde, ele se torna invisível para todos os vivos. Ele só pode ser visto pelo cachorro Dante e por seus parentes mortos, que receberam permissão para sair do mundo dos espíritos e visitar a família pois é o Dia dos Mortos. Os familiares levam Miguel ao Mundo dos Mortos após descobrirem que Amelia, já falecida, não pode visitar os familiares vivos porque Miguel removeu sua foto da oferenda.
O filme trata com uma delicadeza emocionante o tema da morte, a memória e os laços geracionais. É um filme sensível, que traz aprendizados para todas as idades. No filme, quem não é lembrado desaparece e não pode participar da festa do Dia dos Mortos. Essa memória da biografia dos mortos e a noção de pertencimento familiar é o que de melhor nos oferece o longa, e também o que mais nos emociona. Assistir essa obra vai mudar sua relação com o Dia de Finados! Ao invés da tristeza, seu coração vai ficar em festa!
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