O trabalho que faz sentido é o que traz significado
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Questionamentos existenciais sempre foram considerados algo a parte do mundo corporativo ou de ordem íntima e pessoal apenas. Em um bom currículo, a pessoa coloca suas hard skills (habilidades técnicas), com títulos, certificados, experiência, mas nunca coisas como: “tenho o hábito de me questionar de onde vim e para onde vou”; “estou em busca de Deus” ou “acho que existe vida extraterrestre”, mesmo que seja para falar de gostos pessoais.
Eu sei que as softs skills (habilidades comportamentais) estão tomando conta dos setores de recursos humanos há algum tempo com temas como inteligência emocional, meditação, cocriação, inclusão e diversidade. E isso é muito bem usado em campanhas de marketing e endomarketing de grandes empresas. Porém, ao que parece, todo esse movimento, até mesmo os discursos sobre a era do compartilhamento e cooperação, nada mais eram que pano de fundo para um fim já conhecido de todos nós: mais lucro e mais produtividade.
Então, em 2020, veio a pandemia mundial de Covid-19, que se estende até agora quando escrevo esse artigo, em julho de 2021. E a Sociedade do Cansaço (The Burnout Society), termo cunhado pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em seu livro de 2015, ficou sem chão para descansar.
Agora, se olharmos a mídia especializada em negócios vemos que a saúde mental começa a ganhar espaço na pauta em função da pandemia. Ou pelo menos deveria, como alerta Elke Van Hoof, professora de Psicologia da Saúde na Universidade de Vrije, em Bruxelas, e especialista em estresse e trauma, em entrevista à BBC News Mundo: “Esta pandemia é tratada de uma perspectiva médica muito mais do que de uma perspectiva de saúde mental e isso vai nos custar caro”.
No Brasil, uma pesquisa do Instituto Ipsos apontou que 53% declararam que seu bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano. Nos Estados Unidos, outra pesquisa mostrou que 26% dos trabalhadores estão planejando deixar seus empregos atuais e procurar por novos quando a pandemia acabar.
Por que tanta gente não vê sentido nos seus trabalhos? Qual a relação entre a pandemia, a saúde mental e o questionar-se sobre as motivações para levantar todo dia da cama, que não seja para pagar boletos?
Voltamos aqui ao título deste artigo. O trabalho que faz sentido é o que traz significado para a pessoa. Eu gosto de olhar para os três sentidos que a palavra sentido pode ter: direção; significado e quando nos faz sentir, mexe com a emoção, ascende o amor em nós.
O trabalho só vai motivar a pessoa quando ela se encontra com esses três sentidos, assim acontece um engajamento ativo. Também se abre a oportunidade para que ela assuma seu papel e manifeste seus talentos naturais. E esse é um processo profundo de autoconhecimento e autodesenvolvimento. Aqui acontece a integração da espiritualidade ou de questões existenciais com o ambiente de trabalho.
Você vai gostar: A vida é muito mais do que trabalho: VOCÊ NÃO É O SEU TRABALHO
É o que chamamos no Círculo do fluxo Conhecimento<>Movimento<>Transformação. Se criarmos um ambiente saudável de expressão da identidade que a pessoa ocupa, ela entra no fluxo de realização.
Em um artigo recente no site da Harvard Business Review são indicadas três formas para os líderes abordarem questões existenciais dos funcionários no pós-pandemia. De forma resumida e em tradução livre do inglês, são elas:
- Olhar além dos salários – Quando os funcionários se tornam mais focados em questões existenciais podem priorizar o propósito em relação ao dinheiro;
- Trazer mais sentido ao trabalho – Líderes devem se esforçar para ajudar todos os trabalhadores, independentemente do cargo, a sentirem que seu trabalho serve a um propósito importante;
- Fomentar relações mais sólidas entre as pessoas – Líderes devem considerar os efeitos a longo prazo do trabalho remoto nos relacionamentos, na formação de equipes e na orientação.
Se pensarmos a partir da gestão por pontos fortes, metodologia do Instituto Gallup, que utilizo com meus mentorados e aplico em minha empresa, esses três itens acima já fazem parte de um bom gerenciamento de pessoas. E mais, a descoberta dos talentos naturais e o olhar pela psicologia positiva para aquilo que realmente somos bons, traz um senso de propósito e uma vulnerabilidade, que hoje sabemos ser muito saudável nos times.
Sim, todos precisam estar mais inteiros no trabalho.
Vestir a armadura do gerente carrasco das 8h às 18h para entrar na empresa e tirar quando sair de lá, nunca foi saudável para ninguém. Por isso, a exoconsciência é um conceito chave para a nova Terra de regeneração, que engloba a noção de que somos seres universais e que podemos, por meio do intercâmbio saudável com outros planos da existência, trazer inovações para os negócios. Assim, encontramos os três sentidos no trabalho e na vida. E pagamos os boletos felizes!
Juliano Pozati
Saiba mais :