As origens esotéricas da festa junina — Uma visão universalista
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Você gosta de festa junina? Adora tomar um quentão, vinho quente e comer aquelas comidinhas deliciosas? Quem não ama essa época do ano, né? Aquele cheiro das quermesses no ar, as crianças vestidas de caipirinha, o som do forró tocando de fundo… É mesmo uma época mágica da cultura brasileira. Mas você já pensou sobre as origens dessa época? Como essa festa está ligada aos santos católicos, somos induzidos a pensar que essa é uma festa da igreja católica. Mas não é bem assim… As festas juninas não são meros festejos trazidos por portugueses católicos ao Brasil, mas uma comemoração antiquíssima que merece ser avaliada com olhos universalistas.
“Nos dias de inverno, aconchega-te do teu amor, divirta-se com as crianças, acenda uma fogueira e reúna-te com teus amigos. O calor do amor é tão vital quanto o calor do sol!”
Para começar essa celebração não é uma tradição brasileira, embora tenhamos adicionado toda a graça que existe nas festas juninas. Elas acontecem ao redor do mundo e são particularmente importantes na Dinamarca, Estônia, Finlândia, Letônia, Lituânia, Noruega e Suécia, mas também ocorrem em grande escala na Irlanda, no Reino Unido, França, Itália, Malta, Portugal, Espanha e Ucrânia. Fora da Europa, as festas juninas também acontecem também em países como Canadá, Estados Unidos, Porto Rico e Austrália. Não é incrível? Porém, certamente nenhum desses países tem as delícias que só o Brasil oferece nas festas juninas! Quer saber mais? Leia o artigo até o final e conheça as origens esotéricas da festa junina!
Festa Junina e a fogueira: origem pagã
O primeiro elemento que indica raízes muito antigas da festa junina são as fogueiras, um dos elementos principais dessa festa. As fogueiras juninas sempre foram festas sagradas onde se acendiam os “fogos novos” em todas as grandes culturas solares, desde os astecas até os celtas, passando pelos romanos e hindus. Essas festas tinham relação com o Sol e suas posições no céu, que indicavam maior ou menor possibilidade de renovação da vida por meio do cio dos animais, do plantio e colheita do trigo, sementes, frutas e outras plantas. Alguns rituais de fertilidade e purificação também estavam ligados ao fogo e eram realizados através de enormes fogueiras. Portanto, vemos que as fogueiras têm origem européia e fazem parte da antiga tradição pagã de celebrar o solstício de verão. Assim como a cristianização da árvore pagã “sempre verde” que se tornou a famosa árvore de natal, a fogueira a volta do 25 de junho tornou-se, aos poucos na Idade Média, um atributo da festa de São João Batista, o santo celebrado nesse mesmo dia.
“A medida que a noite se aproxima, faz-me de novo lembrar que a alma que caminha no amor, não descansa nem se cansa”
Então, o fogo que é adorado durante as festas de junho não são um enfeite da festa e nem uma superstição, mas sim um ritual sagrado realizado por nossos antepassados, da Stonehenge dos druidas às pirâmides maias e astecas. O dia 21 de junho, por exemplo, é celebrado no Hemisfério Norte até hoje como o dia mais longo do ano. Segundo a tradição, é nesse período que o mundo astral e o físico estão em contato mais íntimo, permitindo que as pessoas vejam com mais facilidade as fadas, os duendes e outros seres mágicos e entidades.
Mas podemos viajar ainda mais longe no tempo para encontrar referências a essas comemorações de junho e das fogueiras sagradas. Charles Leadbeater, grande mestre clarividente da Sociedade Teosófica, falava extensamente sobre os rituais atlantes aos 7 Deuses, dos quais o mais sublime era o consagrado ao Sol. Sim, na Atlântida aconteciam celebrações semelhantes! Em princípio acreditava-se que essa data (por volta de 21 de junho) era a última em que o Sol se manifestaria plenamente, já que após esse período os dias ficam cada vez mais curtos.
Em diferentes culturas e em diferentes momentos históricos temos essa similaridade, de um ritual que parece ter sido passado através de gerações, sobrevivendo quase intacto apesar das modificações que sofreu ao longo do tempo. Desde muito antes de Cristo, nessa data são acesas grandes fogueiras e realizam-se danças ao redor do fogo para simbolizar a espera do retorno do poder solar e da esperança na renovação da vida.
Os portais que se abrem em junho
Conforme citado, povos antigos acreditavam que os dias mais longos aproximavam os mortais do reino dos céus, e criaturas místicas ficavam acessíveis. Nada mais místico e esotérico do que portais espirituais se abrindo, não? Nos antigos mitos gregos, especialmente nas tradições de Elêusis, os solstícios eram chamados de “portais”; o solstício de verão era chamado de Portal dos Homens, porque se venerava a Mãe Natureza, e o solstício de inverno era chamado de Portal dos Deuses, porque era nesse momento que os Deuses do Sol desciam à Terra para salvar a Humanidade. Até agora, nada de santos e nem cristianismo.
As culturas antigas tidas como solares acreditavam que os equinócios eram, na verdade, altas concentrações de energia cósmico-solar. E como as sociedades antigas que precederam Cristo tinham grande influência dos altos iniciados, estes, crentes dos poderes mágicos dos equinócios, foram os primeiros a criar essas celebrações, fogueiras, rituais, procissões, danças tântricas e muito mais. Podemos pegar como exemplo os incas, verdadeiros adoradores de Inti, o Sol. Os dois festivais mais importantes da cultura inca eram o Capac-Raymi (ano novo), que acontecia em dezembro, e Inti-Raymi (festa do Sol), celebrado todo dia 24 de junho. Neste último, assim que o Sol nascia os incas erguiam os braços e diziam: “Ó meu Sol, ó meu Sol, ó meu Sol, envia-nos teu calor, que o frio desapareça”.
Os druidas também contemplavam o Sol e acreditavam nos portais mágicos dos equinócios. Eles possuíam um calendário que contemplava essas celebrações sagradas, como, por exemplo, o Beltane, que significa Belo Fogo. Durante o Beltane, os sacerdotes-magos acendiam duas fogueiras para as pessoas passarem entre elas, inclusive o gado e os animais, com o objetivo de purificar doenças e energias negativas.
Doutrinas mais modernas que se baseiam na magia também alimentam “lendas fantásticas” sobre os portais mágicos dos equinócios, especialmente os que acontecem em junho.
Tudo que é relacionado a magia fica mais potente nessa época e é por isso que esse período é sagrado para os iniciados em magia e bruxaria. Não só as entidades espirituais ficam mais acessíveis, como também algumas cidades subterrâneas míticas, castelos das mestras do fogo e palácios encantados.
Pular a fogueira: brincadeiras juninas também são pagãs
As festas juninas celtas é que começaram com essa tradição do “pula fogueira iá iá”. Durante o mês de junho nas celebrações do equinócio, uma das “brincadeiras” principais da festa era um casal pulando a fogueira, já que eles acendiam, como dissemos anteriormente, duas fogueiras e entre elas passavam as pessoas e animais com o objetivo de purificação.
“É tempo de pular fogueira, celebrar o folclore e a cultura brasileira. É tempo de comer bolo de milho, passar a tradição, de pai pra filho, é tempo de fortalecer a fé!”
E o casamento? Nas festas juninas não pode faltar um noivo, uma noiva e um padre para casar o casal apaixonado! Aliás, na infância, a posição de noiva era a mais cobiçada entre as meninas na hora de dançar a quadrilha. Quem nos lê agora e é mulher, com certeza vai se lembrar da alegria de quando a professora te escolhia para ser a noiva ou da frustração de não ter conseguido esse papel na festa. Pior ainda era quando alguém sobrava e ficava sem par… Para resolver, professora colocava então meninas dançando com meninas e meninos dançando com meninos. Quem aí se lembra disso? E da sensação de dançar ainda muito criança na frente da escola inteira e dos pais? Quanta saudade… Que tempo bom. Mas, voltando ao tema dos casamentos, a origem dessa tradição também é celta. Durante o Beltane também era celebrada a fertilidade, ocasião em que os casais se uniam para gerar filhos. Quando as festas juninas foram cristianizadas, ressignificou-se o ritual matrimonial pagão tornando-o um casamento fictício em que um “noivo” e uma “noiva” abrem a dança da quadrilha. Mas nem sempre esse casamento foi brincadeira. Até o início do séc. XX o casamento caipira era um evento sério visto como um sacramento e, portanto, era considerado válido perante a sociedade e a igreja.
Outra tradição antiga que resistiu ao tempo e a cristianização da festa junina é o mastro de fitas, também oriundo do festival de Beltane. Você já viu algum? Trata-se de um mastro de madeira preso no chão e enfeitado com diversas fitas coloridas, onde cada com tem um significado diferente como amor, saúde, prosperidade, alegria, paz etc. Cada pessoa escolhe uma fita conforme seu desejo e, segurando sua ponta, giram ao redor do mastro trançando as fitas como se estivessem tecendo seu próprio destino. A dança de fitas é muito comum em Portugal, Espanha e também em algumas regiões do Brasil.
A quadrilha e a festa junina no Brasil
Uma festa junina sem quadrilha não é uma festa junina. Essa dança foi incorporada à festa após a cristianização da celebração e tem origem medieval. Surgida por volta do século XIII, essa dança nasceu entre os camponeses ingleses e, após se popularizar, chegou aos salões aristocráticos franceses onde foi chamada de contredanse (contradança). Foi a partir desse momento que ela ganhou uma conotação social, dançada em pares em que os casais formam uma longa fila no salão. No final do século XIX, ela sofreu algumas mudanças nos passos e passou a ser chamada de quadrille (quadrilha). A partir daí viajou por toda Europa e chegou até as Américas.
“Prá dançar quadrilha no sertão é mais mió, sanfoneiro e violeiro tomam conta do forró, não precisa orquestra pra animar a festa o fungado da sanfona vai-se até o nascer do sol”
No Brasil, obviamente as festas juninas chegaram junto com os portugueses, um país extremamente católico. São João, por exemplo, era fervorosamente festejado nas missões jesuíticas e por isso sua importância em quase todas as colônias portuguesas. E, com o passar do tempo e a incorporação da festa na cultura brasileira, fomos adicionando elementos tipicamente brasileiros à celebração, como, por exemplo, as comidinhas e as bebidas. Em outros países aconteceu o mesmo e as festas juninas ganharam elementos culturais locais. Na Polônia, por exemplo, as pessoas saem às ruas fantasiadas de pirata e comemoram com muita vodca. Na Rússia, as moças colocam guirlandas de flores na água dos rios para dar sorte e, na Suécia, as festas juninas tem mais importância que o Natal e a dança acontece ao redor de um mastro decorado com flores e folhas. Já em Portugal as festas juninas são chamadas de Festa dos Santos Populares e a fogueira é mantida acesa com rosmaninho, uma planta perfumada.
Dá até vontade de viajar pelo mundo e ver de perto as festas juninas de cada país, não dá? E você? Já participou de uma festa junina fora do Brasil? Como foi sua experiência? Conta para nós!
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