A verdadeira caridade vai muito além da esmola
A caridade é um dos caminhos para a iluminação. Ajudar quem precisa tira de nós o centro da atenção, exercita o desapego e a empatia, qualidades essenciais para o despertar da consciência e construção de um mundo melhor.
“Fora da caridade não há salvação”
Mas, nem sempre conseguimos compreender de forma mais profunda o que é agir com caridade na vida. O que vem a cabeça da maior parte das pessoas quando o assunto é caridade, são as pessoas pobres e as doações de roupa e alimento. Mas a caridade é muito mais do que isso!
A verdadeira caridade é ser útil e amar o próximo com a si mesmo
Essa é a ideia principal que está contida no conceito de caridade. Claro que, quando doamos alimentos e roupas, estamos sendo úteis ao próximo. Mas, existem muitas formas de sermos úteis, que vão desde as pequenas ações, até grandes movimentos que transformam uma comunidade ou país. Você pode ser útil, por exemplo, doando seu tempo e seu amor. Essa também é uma forma de caridade. Muitas pessoas em situação de vulnerabilidade precisam tanto de atenção, quanto de roupas e comida. Atender às necessidades existenciais do outro é uma das expressões mais belas da caridade. Há muito mais que podemos fazer do que prestar assistência material!
“Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!”
Ser caridoso é também ser gentil. Segurar a porta do elevador, deixar passar a frente na fila alguém mais necessitado, usar da influência profissional para dar visibilidade ao trabalho de alguém. Ser caridoso é amar as diferenças, mesmo quando essas diferenças se chocam com as nossas crenças. É compreender que nem todos são iguais, mas todos têm o mesmo direito a existir com dignidade. Tudo que exclui, condena e julga, é contrário à caridade e a espiritualidade. As boas palavras e a maneira como nos relacionamos com os outros também demonstram a generosidade da nossa alma ou a mesquinhez que ego impõe. Ser caridoso é, acima de tudo, perdoar, ser indulgente para as imperfeições alheias e relevar as ofensas.
O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”. A caridade não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores.
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Caridade versus justiça social
Quando observamos a cultura brasileira, fica evidente que somos um povo caridoso, mas no sentido estrito da palavra. Adoramos fazer doações, comprar cestas de Natal e arrecadar alimentos para os necessitados. Especialmente quando existem tragédias, o brasileiro é excepcional. Não demora muito e as pessoas já se mobilizam para conseguir água, mantimentos e produtos de limpeza quando existe uma grande enchente, um rompimento de barragem ou qualquer outro acontecimento mortal que carregue vidas e desabrigue famílias. Mas, como nada é perfeito, temos um lado obscuro quando se trata da forma como lidamos com os necessitados.
Primeiro, o marketing pessoal está quase sempre presente nesses atos caridosos. Bom, é melhor fazer e alardear ao mundo o quão bom somos do que não fazer nada. Quanto a isso, não há dúvida. Mas, fica o questionamento: quando queremos expor toda e qualquer boa ação que fazemos, quais serão as reais intenções que impulsionam essas ações? Será que é preciso postar e exibir ao mundo pelas redes cada bala em farol que você compra? Cada evento beneficente que participa? Há quem precise compartilhar até mesmo quando doa sangue, com um discurso travestido de caridade, mas que, no fundo, é um discurso do ego.
“Toda virtude verdadeira é silenciosa e humilde”
E porque é importante dizer isso? Porque quando é a vontade de vender uma certa imagem que move as nossas ações em prol do próximo, é bem possível que esse modelo mental leve a uma alienação com relação aquilo que verdadeiramente pode gerar mudanças e transformações sociais. Então, chegamos na relação complicada entre caridade e justiça social. No Brasil, amamos a caridade. Já justiça social, nem tanto. Justamente porque é lindo postar uma foto ajudando um pobre, mas dividir o espaço com esse pobre nem tanto. A mesma mão que doa, muitas vezes tem um pensamento político que reforça a pobreza e a desigualdade social. É quase um paradoxo, mas o ego é quem está sempre por trás dessa cultura.
Justiça Social e Esiritualidade
A justiça social tem tudo a ver com o despertar da consciência e com empatia pela condição alheia, o que nem sempre a caridade superficial ocasiona. Doar é importante, ajudar também, mas transformar é ainda mais. Quando pensamos em transformação, estamos falando de oportunidades, de políticas inclusivas e afirmativas, da igualdade de direitos e oportunidades para todas as classes, credos e cores. No Brasil, especialmente cores. É inegável que temos um problema histórico com o negro, devido ao nosso passado escravagista e de colônia. É evidente que existe um abismo de oportunidades entre os brancos e negros, mas, esse fato ainda é negado por muita gente “caridosa” mas que esconde sua ignorância atrás do discurso meritocrático.
E a espiritualidade é, sem dúvida, meritocrática! Tudo funciona através do merecimento, esforço e dedicação. Mas isso funciona quando pensamos no mundo espiritual, e também na realidade social de alguns poucos países onde a escola, a saúde e a segurança é acessível para todos. Uma corrida da vida em que nem todos largam do mesmo ponto, com certeza não é uma corrida justa e o resultado vai sempre beneficiar quem possui privilégios. E os mais privilegiados quase sempre lutam para manter suas posições e negam suas vantagens, e chamam de privilégios essa busca pela redução da desigualdade através de ações políticas e sociais. É bizarro. São pessoas que viajam pela Europa e elogiam a segurança, mas não compreendem a relação entre a violência urbana e a desigualdade social. Vibram quando ouvem falar que o governo sueco, por exemplo, dá uma bolsa de estudos e uma quantia mensal para seus cidadãos fazerem intercâmbio e cursos em outros países, mas, no Brasil, chamam de vagabundos quem precisa de qualquer ajuda do governo. E tudo isso enquanto sustentam cartões de crédito milionários do políticos, viagens para Paris, passagens aéreas para familiares dos funcionários do governo, centenas de assessores, auxílio moradia e paletó para quem já ganha mais do que o suficiente não só para viver uma boa vida, como para arcar com esses custos. O problema está no bolsa família, nas cotas, e há quem defenda um Estado totalmente privatizado onde nem a saúde ou educação sejam responsabilidades do Estado. Cada um que trabalhe e conquiste seu espaço. Quem quiser mesmo, basta se esforçar e ser positivo, se preferência empreendendo, que certamente vai chegar lá. Nada mais falso e alienante do que esse tipo de pensamento.
Compreender a missão humana na Terra e a espiritualidade passa, obrigatoriamente pela compreensão da realidade que nos rodeia. E parte dessa compreensão está em perceber que não há lados político que possam ser defendidos, apenas causas e pessoas. Melhorar o mundo passa pela transformação social, pela verdadeira caridade de querer transformar e não só ajudar. Justiça social e o conceito mais amplo de caridade são os caminhos da salvação, tanto espiritual quanto material!
“Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”
Não somos todos iguais, embora sejamos todos humanos.
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