Entrevista com Gabhishak
Entrevista com autor convidado WeMystic: GabhiShak
Gabhi Shak
“Você pode meditar jogando tênis. Eu tenho atletas que meditam jogando. Pode ser na empresa, em uma reunião. Porque não?”
Gabhishak trabalha como Mental Trainer, desenvolvendo programas baseados em técnicas de meditação e atenção plena para indivíduos e grupos, atletas e empresas, que buscam um corpo mais equilibrado e saudável e uma mente mais tranquila, atenta e inteligente. Trazemos nesta entrevista profundas reflexões sobre as práticas meditativas, mas acima de tudo, mostramos a meditação como prática em outros contextos: meditação in company como instrumento potenciador do indíviduo em contexto de trabalho e a meditação em contexto desportivo: como obter máxima performance do corpo humano? Defendendo a meditação como a “coisa mais importante do esporte do séc.XXI”, Gabhishak questionou também a verdadeira evolução do ser humano. Para ler e se questionar.
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Estar focado no momento presente, sem lamentar o passado ou ansiar pelo futuro, é um dos grandes pilares da meditação. Você, como treinador mental, começou a perceber e a compreender as transformações do corpo-mente a partir de que momento?
Meditação é observação. O que se observa não é importante. Qualquer coisa pode ser observada. E se isso é feito de maneira desidentificada, quando se entende que observador e objeto observado podem igualmente ser observados, isso é meditação. É um ‘ver’. Comigo o click só ocorreu quando encontrei Satyaprem. Ele é o mestre que me abriu os ‘olhos’.
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Geralmente, um primeiro contato com a meditação abrange atenção à respiração, aos sons ou uma consciência plena ao corpo. Entretanto, essas técnicas podem gerar ansiedade em algumas pessoas, demandando mais tempo e persistência para que os efeitos esperados surjam. Como é a sua abordagem nesses casos, e como dribla eventuais relutâncias em continuar a prática?
O primeiro contato não precisa ser assim. Pode ser jogando tênis. Porque não? Eu tenho atletas que meditam jogando. Pode ser na empresa, em uma reunião. Porque não? A ação em si não faz diferença. Mais importante é a qualidade da ação.
Não são as técnicas que geram ansiedade. Seria absurdo admitir que a vipassana ou o zazen possam deixar alguém ansioso. A ansiedade já estava ali antes mesmo da meditação. Em nosso centro integrativo avaliamos individualmente cada pessoa e, tal como o médico prescreve um remédio ao seu paciente, nós receitamos aquilo que entendemos mais apropriado. As técnicas também são uma medicina e devem ser usadas com conhecimento e responsabilidade.
Psicologicamente o ser humano continua imaturo. Matamos uns aos outros, destruímos o planeta; somos violentos, insensíveis. Onde está a transformação?
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O homem moderno está em constante transformação e inquietude. Portanto, novos métodos e novas técnicas tendem a surgir a fim de acompanhar esse processo. Você acredita que abordagens mais modernas, como as meditações ativas de Osho, sejam uma solução para as mentes mais “barulhentas”?
Eu discuto se tem havido mesmo essa transformação. Psicologicamente o ser humano continua imaturo. Matamos uns aos outros, destruímos o planeta; somos violentos, insensíveis. Onde está a transformação? Pondere isso.
Sobre o Osho, sim, ele criou e aprimorou muitas técnicas. E fez com incomparável maestria. Todo mundo deveria experimentar.
Será que temos tanta novidade assim? Veja o mindfulness. Nada mais é do que um conjunto de exercícios que já existiam, principalmente no budismo. Não foi criado, deram uma nova roupagem para vender mais. Isso é apenas propaganda.
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Hoje em dia há uma grande facilidade para encontrar informações a respeito e se aventurar na meditação. Dentre vídeos, livros, podcasts, aplicativos para smartphone… como filtrar essas informações e de fato extrair a técnica mais adequada? Por onde começar?
E tem cursos também. E seus realizadores dizem que somente após a conclusão do curso deles ou de outros similares você está preparado ou habilitado para ensinar. É um absurdo. Como se a meditação fosse algo mecânico, aprendido em um programa de sessenta dias ou em um retiro. Estão fazendo dela um produto, mais um treinamento. Em nosso centro integrativo oferecemos de graça informações para iniciantes. Por email, telefone e whatsapp. Todos podem ter acesso, tirar dúvidas e dar os primeiros passos pelo shak@gabhishak.com.br ou ±55 13 996 881 297.
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Apesar de ter se popularizado na última década, meditação ainda é uma prática que enfrenta preconceito e ceticismo. Segundo a sua experiência, você acredita que as técnicas de mindfulness foram responsáveis por abrir as portas a novas abordagens — especialmente no meio corporativo?
O número de experimentos científicos que comprovam os efeitos positivos de algumas técnicas no corpo e na mente cresceu muito nos últimos anos. Boa parte dessa pesquisa foi feita com praticantes de mindfulness. As empresas, cientes disso, passaram a incorpora-la. Se ainda há preconceito é devido a falta de informação. As pessoas em geral ainda associam a alguma religião e não sabem que podem ficar mais saudáveis, deixar de tomar remédios, dormir melhor e viver mais e que tudo isso é possível através da prática meditativa.
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Meditar como forma de aumentar a produtividade já não é o principal objetivo das empresas, mas sim melhorar o bem-estar e a satisfação de seus colaboradores. Considerando que há pouco tempo para a prática, e um grande número de pessoas reunidas em uma sala, qual a melhor forma de introduzir a meditação em uma empresa e acompanhar seus resultados?
Um bom programa de meditação in company deve levar em conta todos esses fatores e precisa ser feito de maneira personalizada. Não é a empresa que segue um programa existente. É o programa que deve se adequar a realidade da empresa. Não acho que haja pouco tempo e sim tempo mal aproveitado. A meditação pode ser incorporada ao trabalho; mesmo sem espaço próprio ou reuniões em grupo, tirando os funcionários de suas funções. É totalmente flexível; para qualquer empresa, não importa o tamanho. O empresário tem que exigir isso. Tem que contratar alguém que atenda suas especificidades.
As pessoas em geral ainda associam a alguma religião e não sabem que podem ficar mais saudáveis, deixar de tomar remédios, dormir melhor e viver mais e que tudo isso é possível através da prática meditativa.
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Meditação no esporte é um tema relativamente novo, mas seus resultados positivos seduzem inclusive os mais importantes atletas de alto rendimento. A meditação pode auxiliar a amenizar a pressão, bem como o desgaste mental e emocional desses profissionais?
A meditação é a coisa mais importante do esporte no sec. XXI. Vai muito além dos aspectos emocionais. Esse é apenas um gomo da laranja. A questão é que as técnicas de meditação, como nenhuma outra, podem fazer do corpo humano um instrumento mais forte e saudável. Mais flexível, mais rápido, mais jovem, mais poderoso. Atletas se lesionando menos e se recuperando mais rápido. Outros benefícios são concentração, foco, estabilidade, raciocínio, criatividade, inteligência. São cada vez mais adeptos da preparação mental com base em meditação. Existe alguma ferramenta ou metodologia que ofereça tudo isso ? Difícil, não é mesmo? Só a meditação possui essa completude.
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A nível físico e restaurativo de um atleta, quais são os benefícios que a meditação pode oferecer ao seu desempenho?
Além do que eu disse acima quero citar o recovery. Acompanhei um atleta do futebol japonês que teve uma séria lesão de quadril. Com um leve ajuste na dieta e apenas uma semana de treinamento em meditação ele reduziu o prazo de recuperação de seis para quatro meses. É impressionante o que a meditação é capaz de fazer. Medico e fisioterapeuta precisam urgentemente saber disso.
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Algumas modalidades — como artes marciais, por exemplo — possuem naturalmente uma maior afinidade com a meditação. Por outro lado, existem as que ainda oferecem resistência à prática. Como conquistar essa flexibilização por parte de atletas e treinadores e trazer os benefícios do controle mental a esses esportes?
Eu trabalho com o esporte mais resistente de todos, o futebol. Nesse ambiente, reina um total desconhecimento acerca da preparação mental. Uma parte do trabalho consiste em levar a informação, difundi-la, compartilhar. Atletas e profissionais precisam saber que podem ir mais longe. Sabendo, começarão a buscar e experimentar.
Trabalhei com a equipe Messi por alguns anos. Em um determinado momento, ja tendo sido eleito três vezes melhor do mundo, descobrimos que ele estava aquém. Ainda poderia melhorar. Se Messi, melhor do mundo ainda poderia avançar, o que dizer dos demais?
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Muitas vezes há uma certa relutância quanto a prática da meditação por estar frequentemente associada a um cunho religioso. Como você faria essa dissociação? A meditação pode trazer benefícios químicos e biológicos, de fato?
Tenho que voltar ao início da nossa conversa. Enquanto técnica, a meditação é uma realidade científica. Seus efeitos positivos tem sido medidos e comprovados. Sim, com a prática a química se altera, a biologia muda, o cérebro se revigora. Em um estudo realizado por pesquisadores de Harvard no Massachusetts General Hospital (MGH), verificou-se que a meditação literalmente reconstrói a massa cinzenta do cerébro em apenas oito semanas.
As técnicas de meditação, como nenhuma outra, podem fazer do corpo humano um instrumento mais forte e saudável. Mais flexível, mais rápido, mais jovem, mais poderoso.
Créditos das fotos: satyaprem.com
Biografia
Gabhishak, antes da meditação, estudou direito, engenharia ambiental e biologia; foi servidor público e consultor de empresas. Desenvolveu projetos no terceiro setor, assessorou atletas de elite e empresários de sucesso. Estudou e trabalhou com coaching, neurolinguística, hipnose e mecânica quântica, reunindo milhares de horas em cursos e formações dentro e fora do Brasil. Foi iniciado em Reiki e outras terapias energéticas. Teve seu primeiro contato com as meditações ativas do mestre Osho em 2011. Depois aprendeu Vipassana e zazen com monges budistas; frequentou rituais xamânicos e esteve em contato com grupos de estudos e práticas meditativas em diversos países. Cursou mindfulness na Escola espanhola de Desenvolvimento Transpersonal, com sede em Madrid e no The Chopra Center/USA. Se encontra periodicamente com o mestre zen Satyaprem, de quem, em 2015, recebeu o nome Gabhishak, que significa ‘profundamente dentro’.