Estamos à espera do Apocalipse?
Esse texto foi escrito com todo o cuidado e carinho por um autor convidado. O conteúdo é da sua responsabilidade, não refletindo, necessariamente, a opinião do WeMystic Brasil.
Os editores do We Mystic me pediram um artigo com uma mensagem para 2022, este ano novinho que “temos nas mãos”.
Escolhi o tema Apocalipse, fazendo uma relação com o cinema, que vem nos mostrando o que seria esse momento de transformação.
Já percebeu que assuntos como eclosão de vulcões, terremotos, deslocamento do pólo da Terra, zumbis e invasão alienígena têm estado bastante presentes nas produções cinematográficas nas últimas décadas? Será mesmo que vai ter um apocalipse??
A indústria de cinema, em especial a de Hollywood, nos Estados Unidos, influencia gerações. Após a Segunda Guerra Mundial o governo norte-americano percebeu, vendo como Adolf Hitler e Joseph Goebbels utilizavam a mídia de massa para manipular as pessoas, que o cinema era uma poderosa máquina de propaganda.
Os Estados Unidos começaram então a vender, por meio do cinema, o American Way of Life, o famoso estilo de vida norte-americano. Nesse contexto, a estratégia é sempre eleger um inimigo em comum para as massas. Indiana Jones, em seus filmes antigos, lutava primeiro contra os nazistas, depois contra os soviéticos. Já o Rambo matava os vietnamitas.
A cultura de eleger um inimigo faz sentido quando se tem uma sociedade baseada no moralismo do certo e do errado. É nessa ideia de certo ou errado que se justificam as punições.
E se observarmos, desde a década de 1950 a indústria de Hollywood tem feito um movimento forte de filmes com a temática de apocalipse, mudança ou intervenção drástica no jeito de viver do planeta Terra. E as pessoas se conectam muito a essas histórias. Vamos relembrar alguns deles.
Em Independence Day (1996); Guerra dos Mundos (2005) e O dia em que a Terra parou (2008), temos uma linguagem bélica em relação à chegada dos extraterrestres, que vem para lutar, instalando medo e pânico em relação aos irmãos de outras orbes.
Na série The Walking Dead (2010) e filmes como Resident Evil (2002) e Eu sou a Lenda (2007), até existe a crítica ao modo de vida americano, mas em algum momento um vírus se espalha e a humanidade toda se torna zumbi. Já Divergente (2014) e Jogos Vorazes (2012) trazem o paradigma de classes, de dominação imperialista disfarçado de liberdade e no processo surgem os heróis que vão contra aquele sistema.
Aqui neste ponto conseguimos observar a evolução desse pensamento. Primeiro o choque pelo contraste; segundo, o estilo de vida ameaçado por um vírus contagioso e, em terceiro, os heróis que se levantam contra isso tudo para buscar algo novo.
E então vem Oblivion (2013) e Elysium (2013), que trazem a ideia de separação e condicionamento, porém de uma maneira mais futurista. Ainda temos filmes que mostram forças da natureza que estão para além do nosso controle como Presságio (2009); O dia depois de Amanhã (2004) e 2012 (2009).
O que todas essas produções querem nos dizer?
Para responder a essas perguntas precisamos estudar um conceito bastante peculiar para a filosofia e para a psicanálise, assim não ficaremos apenas nas teorias da conspiração. Esse conceito é o de arquétipo. A palavra arquétipo vem do grego e significa modelo ou tipo original.
Na filosofia encontramos em Platão (a.C) as ideias como protótipos ou modelos ideais das coisas. Avançando para o século XIX, Immanuel Kant tinha o entendimento divino como modelo eterno das criaturas e como causa da realidade de todas as representações humanas do divino.
Já de acordo com a teoria psicanalítica de Carl Jung (1875-1961), arquétipos são imagens ancestrais e simbólicas que exprimem-se através dos mitos e lendas que pertencem ao fundo comum da humanidade. E aqui ainda preciso trazer o trabalho de Joseph Campbell (1904-1987), que reuniu mais de mil mitos e lendas da humanidade e percebeu que existe um fio condutor. Campbell vai dizer que à medida que o mito na humanidade é um arquétipo expresso de forma coletiva, o sonho é esse mesmo arquétipo, porém individualizado.
O arquétipo traz não apenas uma porta para a identidade mais plena do ser humano, porque revela esse mundo de ideias, como também revela um certo sincronismo com as leis rítmicas do universo.
Chegou a hora da transição planetária
Por tudo isso, o meu palpite é que os filmes com temáticas apocalípticas não são outra coisa senão uma expressão dessas inexauríveis energias do cosmos na nossa cultura humana para dizer que chegou a hora de mudar. É como se dentro de nós tivesse um relógio alinhado com os movimentos do universo e esse relógio está nos dizendo que chegou a hora da transição planetária acontecer. O momento de avançarmos um degrau a mais na busca da manifestação do que é ser plenamente humano, do que é ser humanidade.
Quando vejo esses filmes que mostram grandes rupturas e mudanças de paradigmas da humanidade, vejo ali representado a profunda aspiração que existe no ser humano pela transição planetária. E isso vemos há muito tempo, mas não sabemos falar o idioma dos símbolos.
Os modelos que estão na nossa consciência exercem uma espécie de rota, uma estrada, e o jeito de trilhar essa estrada depende de cada um de nós. Um caminho que leva a um lugar chamado identidade.
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