Asma e Ayurveda – causas, tratamentos e prevenção
Em 2015, foram computados mais de 6 milhões de brasileiros acima dos 18 anos com asma no país, doença essa que mata cerca de 7 pessoas por dia. Seja através da medicina tradicional ou métodos holísticos como a Ayurveda, o mais alarmante diante desses dados é o fato de que mais da metade das pessoas que sofrem com os sintomas, não são devidamente diagnosticadas. No artigo falaremos da relação e dos possíveis tratamentos de Asma e Ayurveda.
Confundida muitas vezes com uma simples alergia, um “ataque”, ou algum excesso praticado pelo paciente (como atividades físicas intensas expostos ao frio), eles são enviados de volta para casa sem um parecer sobre a sua real condição.
Para a medicina tradicional, as causas da asma estão associadas a fatores genéticos e ambientais, sob uma complexa e nem sempre objetiva perspectiva. Por outro lado, a Ayurveda também se impõe sobre causas e soluções para a doença, conseguindo estimar e classificar intensidades e tratamentos. Para ela, a condição surge como consequência de diversos fatores, principalmente como hábitos alimentares, acúmulo de estresse, enfraquecimento do sistema nervoso, e outros.
Alguns dos mais evidentes sintomas da asma são:
- Tosses involuntárias, geralmente ocorrendo durante a noite;
- Falta de ar;
- Assobios durante a expiração;
- Por vezes, sensação de asfixia;
- Respiração audível, rápida e intensa;
- Sudorese profusa;
- Inquietação;
- Boca seca;
- Ansiedade;
- Fadiga;
- Dificuldade em conseguir se deitar.
Classicamente na Ayurveda, a asma é considerada como uma doença dispneia, ou seja, que se caracteriza pela dificuldade em respirar. Em sânscrito, a nomenclatura ganha o título de “Swasa Rog”. Essa dificuldade cardíaca, pulmonar ou por obstrução das vias aéreas é vista como causada pela ação anormal do dosha Vata sobre o trato respiratório (conhecido como Pranavaha Srotas), que pode atuar de duas maneiras: sobre ele mesmo, onde Vata seca e propriedades adstringentes causam a constrição e contração dos músculos lisos; ou em conjunto com uma obstrução causada pelo excesso de Kapha, devido às suas características pesadas e úmidas.
Diante destas circunstâncias, ao invés de permanecer em seu estado líquido e fácil de expulsar, a presença de Vata seca o muco acumulado, tornando-o grosso, pegajoso e, como na maioria das doenças, a formação e depósito de Ama (neste caso, muco) exacerba esse peso, aderência e tendência para desenvolver uma inflamação.
Os tipos de asma, segundo a Ayurveda
Para a Ayurveda, a asma é descrita, como dito anteriormente, como um agravamento de Kapha (água), o qual se encontra acumulado nas vias aéreas, levando ao seu estreitamento e obstrução. Essa característica causa uma interrupção no fluxo de ar dos pulmões, causando falta de ar e dificuldade em respirar.
Isso acontece devido a ingestão excessiva de alimentos agravantes de Vata (ar) e Kapha e situações como fraqueza interna dos tecidos pulmonares, além de outras doenças que afetam os pulmões.
Fatores como estar exposto a um ambiente frio e úmido, ingerir alimentos ou bebidas frias, alimentos que não são tão facilmente digeríveis e a formação de muco (ama) são alguns dos responsáveis pelo bloqueio dos canais respiratórios, também causando dificuldade em respirar.
Para entender o tipo e intensidade de asma que determinado indivíduo sofre, a Ayurveda classificou os Swasa Rog em cinco tipos:
- Maha Swasa (respiração intensa e muito audível);
- Urdhva Swasa (expiração longa);
- Chhinna Swasa (respiração de Cheyne-Stokes, caracterizada por uma respiração hiperventilada, seguida de apneia);
- Tamak Swasa (asma bronquial);
- Kshudra Swasa (asma induzida por esforço).
As primeiras três classificações são consideradas mortais pela Ayurveda, bem como de difícil tratamento, enquanto a Kshudra Swasa é tratada com as demais através dos mesmos medicamente utilizados para a asma bronquial.
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Asma e Ayurveda: tratamentos apropriados
Antes de qualquer receita ou recomendação, a Ayurveda pede tradicionalmente para que os que sofrem de asma passem pelo processo de “Shodana”, ou Purificação. Através deste tratamento, supervisionado por um médico experiente, um preparo cuidadoso é administrado no tempo correto, consistindo na expulsão do excesso de doshas de seus locais de acúmulo. No caso, Kapha deverá ser expulso do estômago, e Vata do intestino grosso. Esse é um processo realizado a níveis profundos e capaz de diminuir as chances de recorrência.
Essa linha de tratamento apenas deve ser continuada se apropriada; o indivíduo deve ser forte o suficiente e a doença não pode ter se apropriado dele.
Após o tratamento de purificação, ou se ele não for possível devido às condições do paciente, passa-se ao próximo passo, conhecido como “Shamana” ou Paliação. Através dessa técnica, ocorre a pacificação dos doshas acumulados, promovendo-a tanto para o corpo quanto para a mente. Como consequência, há um aumento da capacidade antioxidante do corpo, promovendo, portanto, o adequado funcionamento das células e o rejuvenescimento do indivíduo.
Consistindo basicamente em um período de dieta consciente, o Shamana é realizado durante 4 a 10 semanas, podendo variar de acordo com o dosha de cada indivíduo. Além da alimentação com a ingestão adicional de ervas, incluem-se técnicas com massagens nutritivas, secativas, aquecedoras ou refrigerantes. Práticas de exercícios físicos leves, meditação e posturas do Yoga também são benéficas neste estágio.
Lembre-se, entretanto, que estamos procurando apaziguar Vata e Kapha. Com isso, buscando evitar hábitos e a ingestão de elementos pesados, gelados ou secos, como:
- Trigo;
- Fermento;
- Farinha e pães processados;
- Leite frio;
- Queijo;
- Iogurte;
- Coalhadas;
- Ovos;
- Bananas;
- Frutas em excesso, especialmente melão;
- Açúcar e farinha branca;
- Alimentos fritos ou muito oleosos;
- Alimentos secos como batatas fritas, cereais, muffins ou pães;
- Refrigerantes e demais bebidas geladas;
- Brotos, nozes e sementes devem ser consumidas em quantias moderadas;
- Excesso de alimentos crus e saladas.
Além da questão alimentar, é importante fazer refeições regulares, evitando comer tarde da noite, dormir durante o dia, ambientes úmidos e pesados, excessivamente secos e empoeirados, bem como gatilhos externos para a asma, como ácaros, mofo, entre outros.
Hábitos para estabilizar Vata
Uma das mais importantes considerações a se fazer quando falamos em estabilização do dosha Vata é saber contornar os efeitos psicológicos desencadeados pela ansiedade, medo, luto, estresse e tensão.
Esses fatores mentais e emocionais irão imediata e dramaticamente afetar Vata. Por isso, não é incomum, diante de um choque psicológico ou situação estressante, que um ataque de asma seja desencadeado.
Outra consideração é o agravamento de Vata diante de momentos de muita agitação ou estímulos em demasia, causados por viagens excessivas e o uso descontrolado da tecnologia, com a navegação na internet, redes sociais ou jogos de computador. Claro, controlar tudo isso é muito difícil nos dias atuais, no entanto saiba selecionar os momentos em que irá passar em contato com esses meios. Viaje e usufrua da tecnologia quando precisar, mas relaxe sempre que puder.
Uma boa dica para quem tem o cotidiano agitado e precisa apaziguar os efeitos de um Vata em excesso é adotar meditação ou técnicas de pranayama mais apropriadas a cada indivíduo. Em adição, medicamentos à base de ervas também podem ser extremamente efetivos e inclusive remédios caseiros simples. O exemplo seguinte pode ser muito útil no tratamento de quem acabou de ter um ataque de asma ou como forma preventiva. Você vai precisar de:
- 1 colher de sopa de suco de gengibre;
- 1 colher de sopa de suco de manjericão;
- 1 grão de pimenta preta esmagada;
- 1 colher de sopa de mel.
Misture todos os ingredientes em um copo e tome antes do café da manhã, ainda em jejum.
Outras plantas medicinais também podem ser prescritas por um praticante de Ayurveda e assim trabalhar na redução do acúmulo de Kapha e Vata no Pranavaha Srotas (trato respiratório). São alguns dos compostos o Sitopaladi Churna, Talisadi Churna, Dashmoolarishta e Pippaliasava, que podem ser solicitados a um especialista ou adquiridos em lojas específicas de medicina Ayurveda. Outras plantas como a Pushkarmool, Kantakari, Kasamarda, Karkatshringi, Bibhitaki, Pippali, Regaliz, Canela e outras, podem ser consumidas de forma unitária ou em combinação para obterem excelentes efeitos sobre a asma.
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O que fazer durante uma crise?
Durante um ataque agudo, você poderá colocar ½ colher de chá de óleo de Mahanarayan (encontrado à venda também pela internet) em água morna e, onde houver excesso de muco acumulado, faça uma massagem sobre o peito e costas com sal em pedras finas misturado com óleo de gergelim. Finalize o estímulo colocando sobre o local uma toalha quente.
Um tratamento muito delicado utilizando um enema com óleo de gergelim quente (Matra Basti) também pode ser administrado para controlar os movimentos de Vata quando apropriado.
Algumas outras dicas caseiras podem ser bastante eficientes para prevenir e aliviar questões relacionadas à asma. Confira algumas receitas para fazer em casa:
- Prepare uma mistura de raiz de gengibre seca em pó, pimenta preta e pimenta longa (por vezes chamada de pimenta longa javanesa) em quantidades iguais e guarde em um recipiente hermético. Pegue ½ colher de chá desse combinado e misture-o a ½ colher de mel, ingerindo o conteúdo duas vezes ao dia com água morna;
- Pegue 11 folhas de goiaba, 11 de pimenta preta, 1 xícara de leite e uma xícara de água. Coloque todos os ingredientes em um recipiente e ferva-os. Quando reduzido a um copo, beba com o estômago vazio. Repita esse procedimento diariamente pelo período mínimo de seis meses a um ano;
- Ferva as sementes de cominho na água e inale o vapor. Esse processo ajuda a dilatar a passagem brônquica.
- Providencie 5 gramas de gengibre, pimenta preta, cardamomo, cravo, açafrão e 30 gramas de açúcar. Moa a mistura até que tudo vire pó. Pegue então metade a uma colher de chá desse conteúdo e misture bem a uma porção de mel. Ingira a mistura duas vezes ao dia.
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