Descontando tudo na comida? Entenda o que é a fome emocional
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Juliana Ribeiro, de AnaMaria Digital
Uma rotina estressante, preocupações na cabeça e mil coisas acumuladas para fazer… Quem nunca passou por momentos assim, não é mesmo? Situações como essas, porém, quando não controladas, podem desencadear diversos problemas, incluindo a fome emocional.
A psicóloga Flávia Teixeira, que é especialista em Transtornos Alimentares pela Universidade de São Paulo (USP), explica ao WeMystic Brasil que ela pode ser entendida como uma necessidade de compensar algum desconforto. É aquele prêmio que a gente costuma se ‘presentear’ após viver algum momento de estresse, um dia difícil no trabalho ou o término de um relacionamento, sabe?
De acordo com a especialista, na maior parte das vezes a pessoa acaba procurando por alimentos doces e ricos em gordura, justamente os que trazem uma sensação rápida de euforia e prazer.
“Associamos o comer algo que gostamos como a ferramenta que irá nos ajudar a aliviar as dores, frustrações e cansaço. Nestes casos, geralmente vamos atrás de nosso doce preferido ou uma comida que nos remete aos bons momentos”, exemplifica.
Entretanto, mesmo que esses alimentos tragam algum conforto, os sentimentos de angústia e de dor permanecem e não são substituídos. “Para algumas pessoas, isso ainda é motivo para se sentirem culpadas por terem comido esse ou aquele alimento. Por isso, antes de mais nada, é interessante buscar entender e aprender a lidar com o que nos traz desconforto”, alerta.
Clique Aqui: A fome enquanto fuga: cuidado com o que come
Como identificar?
A psicóloga lembra que a fome dita ‘normal’, ou fome fisiológica, diz respeito às sensações físicas. Sabe aquela dorzinha no estômago ou aquele desconforto quando ele está vazio? Então! Este é seu corpo dando o alerta de que está realmente com fome. “Nesse caso, comemos os alimentos disponíveis e, após a sua ingestão, nos sentimos satisfeitos e saciados até a próxima refeição“, diz Flávia.
Muitas vezes, porém, não é dessa maneira que acontece. Se você, após um almoço farto, vai atrás de alimentos por ainda não se sentir saciado, é a hora de buscar ajuda para entender o que pode estar acontecendo.
Esse comportamento, segundo a especialista, pode levar a vários problemas de saúde. Isso inclui, por exemplo, desconfortos relacionados à digestão, mal estar por excesso de comida, aumento de taxas como açúcar, gorduras e pressão arterial, além de sentimentos de culpa e de incapacidade de lidar com a comida.
Alguns sinais podem apontar que algo está errado, como a fome repentina ou quando é por um alimento específico, como uma torta de chocolate, por exemplo. Então é preciso ficar atento.
Qual é a causa?
Teixeira explica que, geralmente, o ‘comer emocional’ está ligado às emoções com as quais não estamos conseguindo lidar em nossas vidas. Sentimentos como ansiedade, solidão, rejeição ou perdas podem levar a pessoa a recorrer a comida como forma de ‘aplacar’ os desconfortos decorrentes dessas emoções. “Como se buscasse um alívio, sendo até mesmo uma maneira de se distrair e não entrar em contato com o que está sentindo”, afirma.
Alguns costumam dizer que a ansiedade dá fome, o que, segundo a psicóloga, não é bem assim. “Não sentimos fome quando estamos ansiosos. Ter vontade de comer e buscar determinados alimentos pode ser uma das maneiras que a pessoa encontra para tentar minimizar a sensação desconfortante que a ansiedade pode estar lhe trazendo”, explica.
Tem tratamento?
Sim! Uma das formas de se tratar a ‘fome emocional’ é por meio da terapia com um psicólogo, cujo objetivo é o autoconhecimento, possibilitando que a pessoa identifique e aprenda a lidar melhor com seus sentimentos.
“Quando entendemos nossa ansiedade, medos, dores e angústia, podemos ver a melhor maneira de lidar e não buscar na comida formas compensatórias e insatisfatórias de administrar nossas questões”, explica Flávia.
Segundo ela, buscar ajuda profissional é fundamental neste caso. “Se sozinho você não está conseguindo, as chances de se sentir mais frustrado e incapaz podem aumentar e tomar dimensões que lhe tragam ainda mais sofrimento”, alerta.
Faça você mesmo
Além da terapia, uma outra maneira de lidar com a ‘fome emocional’ é trabalhar o seu autocontrole. Isso significa se questionar no momento em que pensa na comida, se realmente precisa dela naquele momento.
“Você está trabalhando no computador em casa e, de repente, sente que precisa ir comer alguma coisa. Antes de levantar-se, pare! Se dê um tempo, e pense: ‘estou mesmo com fome?’, ‘será que não é sede?’, ‘preciso parar agora e comer ou posso esperar até o lanche da tarde?’, ‘é fome ou vontade de comer?'”, exemplifica a psicóloga.
Ela diz que, ao entrar em contato com o que está sentindo, a pessoa se conscientiza e pode decidir o que fazer, além de administrar melhor o quanto vai comer a partir de suas necessidades.
“Comer é, por si só, algo fisiológico e emocional. Todos comemos emocionalmente. Pense se é possível fazer uma divisão entre emoção e razão, psicológico e fisiológico. Somos resultado da interação de todos esses aspectos. Por isso, procure se conhecer melhor, entrar em contato com suas necessidades, seus desejos, dificuldades, dores, conquistas, sabores e dissabores de sua vida”, orienta a especialista.
Ainda de acordo com Teixeira, a partir desse movimento é possível se permitir comer os alimentos que desejar e sentir vontade. Ter o prazer de poder fazer suas escolhas e se sentir saciado.
“Você vai perceber que comer não deve ser um momento de batalha interna, de que a comida e os alimentos não são seus inimigos, mas sim fonte de energia e de vida”, conclui a psicóloga.
Comer sensitivo… o que é isso?
Talvez este não seja um termo tão comum, mas o ‘comer sensitivo’ nada mais é que se permitir parar e sentir as sensações que os alimentos trazem. Perceber a textura, o cheiro e o sabor.
“Muitas vezes, comemos rápido e sem nem olhar para o que estamos consumindo, não sabemos dizer nem o gosto do que ingerimos. Parar, observar e entrar em contato consigo e com o alimento são maneiras de comer de modo sensitivo”, explica a psicóloga.
“Desta forma, é possível utilizar todos os sentidos e possibilidades para, de fato, desfrutar de um momento de prazer e satisfação na hora de se alimentar, comendo de um modo mais consciente e sendo responsável por nossas escolhas”, completa.
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